>olá para você que está lendo
>eu sei que você já se arrependeu de algo que tenha feito, seja direta ou indiretamente
>todos nós já sentimos isso
>me diga
>você gostaria de ter outra chance para fazer tudo direito?
>é
>eu sei que sim
>mas isso nunca é a melhor solução
>acredite em mim
>eu aprendi isso da pior maneira
>a teoria do efeito borboleta diz que se uma borboleta bater as suas asas no tempo e lugar certos, pode causar um furacão do outro lado do mundo
>deixe-me te contar a história de como minha vida se transformou num pesadelo
>a pior parte?
>é que foi tudo culpa minha
>antes que eu me esqueça
>meu nome é marcos
>tenho 19 anos
>eu tenho família, vou pra escola, tenho amigos
>eu levo uma vida aparentemente normal, exceto por uma coisa
>eu sofro de DTM
>distúrbio temporal mental
>uma doença muito rara
>em toda a história só encontrei outros 4 casos relatados iguais ao meu
>outras 4 pobres almas amaldiçoadas
>o que acontece é que quando eu me concentro muito em certo ponto da minha vida eu posso enviar a minha mente de volta àquele momento
>era como se eu estivesse vivendo aquilo de novo
>eu descobri essa minha habilidade há 7 anos atrás, quando eu tinha 12 anos, de uma maneira muito boba
>era época de provas finais na escola e eu não tinha conseguido a nota que precisava pra passar
>meus pais ficaram muito decepcionados comigo por repetir de ano
>passei aquela tarde inteira me odiando
>eu queria tanto voltar no tempo e refazer aquela prova
>eu me concentrei tanto nesse pensamento que de repente algo aconteceu
>minha cabeça começou a doer de forma incontrolável
>parecia que ela ia explodir de tanta dor
>eu queria gritar, urrar, mas não conseguia
>e então, do nada
>a dor parou
>eu abri os meus olhos e não entendi o que estava acontecendo
>eu estava na escola, na minha sala
>eu olho para minha frente e lá estava a prova final, completamente em branco
>eu sabia que já tinha vivido isso
>eu já tinha feito aquela prova
>mas dessa vez era diferente
>dessa vez eu sabia as respostas
>sou o primeiro a terminar a prova
>quase que instantaneamente após eu sair da sala
>a dor na minha cabeça volta
>tão forte quanto da última vez
>eu caio no chão, me contorcendo
>a dor para e percebo que estou no meu quarto novamente
>eu estava confuso, aquilo só podia ter sido um sonho
>mas foi real demais para ser um sonho
>eu olho para o lado e lá estava minha prova jogada no chão
>só que agora ela estava com a nota máxima
>eu saio do meu quarto e meus pais vem me abraçar
>eles não estavam mais decepcionados comigo
>pelo contrário
>eles estavam me dando parabéns por ter sido aprovado
>foi aí que eu percebi
>aquilo realmente tinha acontecido
>naquela mesma noite eu esperei meus pais irem dormir e comecei a pesquisar o que tinha acontecido
>eu fiz certo em não contar para os meus pais
>em todos os casos que encontrei os pacientes foram internados em clínicas psiquiátricas após ficarem supostamente loucos dizendo que tinham que "consertar" os seus erros
>só isso já me servia de aviso
>mas eu não precisava ler isso pra saber que eu não devia usar minha habilidade de novo
>eu já tinha assistido muitos filmes de viagem no tempo
>e sabia que mudar o passado sempre criava problemas e/ou piorava as coisas
>então os anos foram passando
>5 anos para ser mais exato
>cá estava eu com meus 17 anos
>terminando a escola
>tinha 3 amigos que eram praticamente minha segunda família
>connor, eric e naty
>connor era filho de uma britânica e um brasileiro mas veio pro Brasil depois que os pais se divorciaram
>eric era meu melhor amigo desde pequeno e era a única pessoa pra quem eu tinha contado o que eu sabia fazer
>e naty, que não era só minha amiga como também namorava com ela há mais de um ano
>no começo éramos só o eric e eu
>até que numa festa da escola no começo do ano passado nós conhecemos a naty
>tinha sido transferida de uma cidade do interior por causa do trabalho do pai
>naquele mesmo dia ela ficou com o eric
>depois disso ela começa a andar com a gente na escola
>era parceira d+++
>a gente gostava das mesmas coisas, jogávamos os mesmos jogos
>ela era mais zueira que muito cara lá da escola
>depois de um tempo ela e o eric não estavam mais ficando
>mas a amizade tinha prevalecido
>só que eu estava me sentindo estranho em relação a ela
>pra mim já não era mais só amizade
>eu realmente estava gostando dela
>só que eu não disse nada por causa do rolo dela com o eric
>menina nenhuma ia estragar uma amizade de uma vida
>algumas semanas depois o connor chega na escola
>na época ele estava meio deslocado por causa do divórcio dos pais
>não falava com ninguém, só ficava sozinho no fundo da sala
>os dias foram passando e ele ainda não tinha feito amizade com ninguém
>até que um dia eu resolvo ir falar com ele
>entro na sala e um antigo amigo meu diz que um pessoal ta organizando um racha depois da aula e pergunta se eu quero ir
>digo que não posso
>chamo o connor pra dar um rolê com a gente depois da aula
>ele fez umas expressão de alívio, como se achasse que ninguém nunca ia falar com ele
>no rolê ele conta pra gente porque veio pro Brasil
>que os pais dele ainda se gostavam mas se separaram por causa de uma briga de família
>ele não quis dizer o porquê da briga
>só que depois do divórcio o pai ficou com ele e a mãe com a irmã dele
>a gente passou a tarde numa praça perto da escola
>quando o sol começou a se pôr o connor e o eric tiveram que ir emborar pois moravam em bairros distantes e tinham que pegar o busão
>ficamos só eu e a naty sentados num banquinho da praça
>conversamos sobre coisas aleatórias
>até que de repente ela começa a ficar meio inquieta, como se quisesse contar alguma coisa
>pergunto se ela tinha alguma coisa pra me falar
>"marcos, eu sei que eu estava ficando com o eric e que vocês dois são muito amigos, mas de um tempo pra cá eu venho gostando de você"
>parecia bom demais pra ser verdade
>eu não disse nada apenas beijei ela
>como eu queria que aquele momento não acabasse
>no dia seguinte eu conto o que aconteceu pro eric
>eu pensei que ele ia ficar bravo mas ele deu o maior apoio
>foi a partir daí que eu e a naty começamos a namorar
>depois disso nós 4 nos tornamos inseparáveis
>muitas vezes eu pensei em contar pra eles sobre a minha situação
>mas aí eu me lembrava do que tinha acontecido com os outros iguais a mim
>eu não queria que pensassem que eu era louco
>mesmo o eric que era meu melhor amigo teve suas dúvidas quando eu contei pra ele
>o tempo passou
>era o último dia de aula do terceiro ano
>o playboy da sala estava organizando uma festa de fim de ano na casa dele pois os pais tinham viajado
>a turma já fica animada, a gente nunca perdia uma festa
>ainda mais a de despedida do ensino médio
>tinha um dinheiro que eu já vinha juntando a algum tempo
>ia comprar as melhores bebidas e tomar com meus amigos na festa
>quando estou no mercado ligo pra naty e digo pra eles que iria me atrasar e pra eles irem primeiro pra festa e eu chegava depois
>quando chego na casa do playboy a festa já estava no ápice
>procuro pelo pessoal de quarto em quarto
>quando eu abro a porta do quarto dos pais do playboy
>eu vejo algo que me destrói por dentro
>o connor estava em cima da naty, os doi pelados
>eu não podia acreditar no que estava vendo
>eu já nem sabia mais o que fazer
>eu só queria ir pra casa
>deitar na minha cama e esquecer o resto do mundo
>e foi o que fiz
>pela primeira vez em anos eu cogitei a ideia de usar minha habilidade
>voltar um dia no passado e me impedir de ir para aquela festa
>na manhã seguinte eu não tive forças para sair da cama
>por volta da hora do almoço a naty vem na minha casa
>disse que queria falar sobre algo que aconteceu na festa
>que o connor tinha obrigado ela a fazer algo que ela não queria
>que ele tinha estuprado ela
>nessa hora a tristeza que eu estava sentindo se transformou em raiva
>como ela podia ter feito isso comigo e ainda inventar uma mentira dessa?
>falo que nunca mais quero ver ela
>ela começa a chorar e eu a expulso de casa
>cortei contato com o connor também
>o que era um quarteto voltou a ser a velha dupla de antes
>agora vamos avançar 2 anos
>tinha acabado de completar 19 anos
>estou cursando o quarto período de direito na faculdade
>eric está na mesma universidade que eu só que no curso de engenharia elétrica
>nunca mais tivemos notícias da naty nem do connor
>pelo menos até semana passada
>estava vendo o noticiário enquanto me arrumava para sair de casa
>até que aparece a notícia
>"estuprador em série é preso em flagrante"
>a foto do cara me era familiar
>e então eu percebo
>era o connor
>só que ele estava muito diferente
>estava com uma barba e uma aparência acabada
>quase que imediatamente eu lembro das palavras que a naty me disse da última vez que eu vi ela
>que o connor tinha obrigado ela
>eu tinha cometido um erro terrível
>vou pra faculdade o mais rápido que eu pude
>encontro o eric e pergunto se ele tinha notícias da naty
>ele então olha pra baixo e fica em silêncio
>um silêncio estranho e assustador
>"eu não contei porque você tinha dito que não queria mais saber dela"
>"marcos, a naty se matou há 3 meses atrás"
>"parece que depois que a escola acabou ela engravidou e o pai a expulsou de casa"
>"ela abortou o bebê e desde então vinha sofrido de depressão"
>eu tinha prometido
>prometido pra mim mesmo que nunca mais faria isso
>eu sabia que poderiam haver consequências
>mas a vida dela tinha acabado por minha culpa
>porque eu não acreditei nela
>porque eu não protegi ela
>era minha responsabilidade consertar isso
>penso no dia daquela festa como se fosse a coisa mais importante do mundo
>e então a dor
>a dor que eu não sentia a 7 anos
>só que desta vez estava mais forte
>caio no chão agonizando
>eric tenta me ajudar
>mas num piscar de olhos ele não está mais lá
>mas na verdade eu que não estava mais lá
>agora eu estava no chão do mercado que eu fui a 2 anos
>algumas pessoas estavam me olhando
>mas eu não tinha tempo pra isso
>comecei a correr o mais rápido que pude
>eu não deixaria aquilo acontecer de novo
>entro na festa e vou direto para o quarto como da última vez
>me deparo com o connor tirando a roupa da naty
>ela tentava parar mas parecia que não tinha força pra isso
>ele tinha drogado ela
>aquele desgraçado
>eu pulo em cima dele e começo a socar a cara dele
>alguém vê a briga pelo lado de fora do quarto e começa a pedir socorro
>connor me empurra pra longe e tenta fugir
>eu vou atrás dele e por pouco ele não acerta um peso de papel na minha cabeça
>nessa hora uma fúria incontrolável toma conta de mim
>ele trai a minha amizade, tenta estuprar a minha namorada e ainda tenta me matar?
>eu jogo ele no chão e começo a estrangular ele
>enquanto ele se debatia eu queria parar
>mas então flashes de memória passavam pela minha cabeça
>"ele me obrigou"
>"estuprador em série é preso"
>"a naty se matou há 3 meses atrás"
>o connor estava começando a parar de lutar
>enquanto eu escutava gente vindo em direção ao quarto
>e então o silêncio
>escutei gritos de terror atrás de mim
>mas eu tinha feito o certo
>enquanto me arrastavam pra longe do corpo do connor a dor volta novamente
>o quarto em que eu estava vai se desfazendo
>e então eu acordo num chão frio
>estava num cômodo vazio com apenas uma cama, uma pia e uma janela gradeada
>olho para minha frente e só vejo barras
>de um certo modo eu já esperava que isso acontecesse
>um policial aparece e diz que tinha visita pra mim
>era a naty
>meu coração acelera de felicidade
>eu fico feliz de ver que ela ainda estava viva, passar uns anos na cadeia era um preço baixo a pagar por salvar a vida dela
>mas quando ela se aproxima meu sorriso se desfaz
>ela estava chorando
>com certeza estava trazendo más notícias
>e o meu medo era que eu tivesse sido o causador dessas más notícias
>"marcos, nosso maior medo se realizou"
>eu não entendo nada, só fico escutando ela terminar de falar
>"eles descobriram o que o eric estava fazendo e deram uma surra nele"
>"ele está em estado crítico no hospital"
>"os médicos dizem que ele não passa dessa noite"
>fico confuso, peço pra ela me explicar melhor
>"você está ficando louco? você sabe que quando foi preso o eric começou a ajudar seus pais a pagar o advogado"
>"ele acabou se envolvendo com tráfico e começou a pegar uma pequena parte do lucro para conseguir mais dinheiro"
>"eu disse pra ele que eles iam descobrir, mas ele não me deu ouvidos. ele só queria ajudar você"
>caio de joelhos naquela cela e começo a chorar
>coloque essa música: https://youtu.be/ lmc21V-zBq0?t=37
>eu não podia acreditar no que eu tinha feito
>lembra o que eu falei sobre viagem no tempo?
>isso sempre piora as coisas
>eu não tinha salvado uma vida
>eu apenas tinha trocado uma pela outra
>como eu pude ser tão idiota?
>e agora meu melhor amigo iria pagar o preço pelo meu egoísmo
>porque eu não pude lidar com a culpa
>mas talvez
>talvez ainda não fosse tarde demais
>ainda não estava tudo perdido
>se eu voltasse mais uma vez
>para um pouco mais no passado
>eu poderia deixar tudo como era antes
>eu não poderia cometer mais erros
>pois eu iria correr pra corrigir os que eu mesmo já havia criado
>continua...
Pessoal, espero que tenham gostado. A continuação vai sair assim que eu conseguir a permissão de um adm
Parte 2 [AUTORIZADO PELO IAGO E PELO LUCAS]
>o tempo é uma coisa curiosa
>uns não dão a mímina pra ele
>outros dizem que tempo é dinheiro
>pois ele também é valioso
>mas uma coisa é verdade
>se você não souber administrar irá perder os dois
>agora eu me encontrava no chão da minha cela novamente
>a naty ajoelhada do meu lado gritando por socorro
>as convulsões causadas pela dor que eu sentia não eram o que me preocupava agora
>precisava focar em outro lugar
>outra época
>mas eu já sabia pra onde ir
>o dia em que o quarteto foi formado
>os guardas entraram na cela pra tentar me ajudar
>mas já era tarde
>eu não estava mais lá
>acordo no meu quarto com 16 anos de novo
>olho no meu relógio
>tinha chegado no dia certo
>agora eu só precisava pensar em um jeito de fazer as coisas serem de um jeito diferente
>me arrumo rápido pra ir à escola
>quando entro na sala um velho amigo meu me convida pra um racha que o pessoal tava organizando depois da aula
>eu lembro disso
>da última vez eu recusei
>mas agora eu aceito
>quando eu sento na minha carteira a naty pergunta se eu vou poder ir com ela e o eric no parque depois da aula
>falo que não posso porque vou pro racha com os caras
>ela acha estranho e diz que eu não sou disso
>me fala pra tomar cuidado
>quando ela vai pra carteira dela eu olho pra trás
>lá estava o connor sentado no fundo da sala
>sozinho
>eu não iria virar amigo desse maldito dessa vez
>quando acaba a aula eu vou encontrar meu amigo do lado de fora da escola
>ele já estava esperando no carro dele
>o carro era um golzinho quando ele comprou mas ele customizou com várias peças tunadas
>entro no carro e pergunto onde vai ser a corrida
>ele diz que numa estradinha deserta perto da divisa da cidade
>chego no local e tem vários carros customizados
>meu amigo vira pra mim e me pede um favor
>ele pede que eu hackeie os computadores dos outros caras pra obter informações dos carros deles
>agora eu entendi porque ele tinha me convidado
>mas não vejo porque não fazer aquele favor pra ele
>ele sempre tinha sido legal comigo e eu precisava ficar la pra não ir pro parque
>não foi um trabalho difícil
>eu sempre manjei um pouco de hacking
>em poucos minutos eu já tinha posto as informações de todos os competidores num pendrive e entregado a ele
>não que eu precisasse ter feito isso
>meu amigo corria muito bem
>ganhou todos os rachas que participou
>na hora de ir embora ele tinha uma sacola cheia de dinheiro
>ele pede desculpa por ter me usado pra conseguir aquelas informações mas precisava do dinheiro pra pagar umas dívidas
>"tudo bem, kevin. fico feliz em ajudar"
>como agradecimento ele me dá uma parte do dinheiro
>já estava bem tarde quando ele estava indo me deixar em casa
>a estradinha estava bastante escura
>estávamos perto de uma encruzilhada e eu pensava no que eu tinha sacrificado pra melhorar o futuro
>como eu não fui pro parque eu não iria começar a namorar com a naty
>mas precisava ser feito
>eu poderia ter outra chance depois de dizer o que sentia por ela
>meus pensamentos são interrompidos por um barulho de buzina
>uma caminhonete com os faróis queimados corta a gente
>meu amigo faz uma manobra pra desviar da caminhonete mas perde o controle
>o carro capota
>no meio de tantas dores que eu sentia no meu corpo
>eu consegui sentir uma que eu ja conhecia
>sabia o que estava prestes a acontecer
>mas não sabia o que iria estar me esperando
>mais uma vez eu acordo no meu quarto
>a dor na cabeça ja havia sumido mas ela não era a única coisa que eu não sentia
>eu tento levantar mas não conseguia
>fico desesperado
>grito por socorro
>o eric de 19 anos entra no meu quarto
>não consigo me conter de felicidade por ele estar bem e por um instante esqueço que não sentia minhas pernas
>a naty entra logo atrás dele e perguntam o que tinha acontecido
>falo que foi apenas um pesadelo e peço pra eles me ajudarem a levantar
>eles se olham e viram pra mim com um ar de estranhamento
>"poxa me ajudem a levantar logo. eu quero dar um abraço em vocês"
>"você está bem mesmo?"
>"claro que estou, cara. o que ta acontecendo com vocês?"
>"marcos, você esqueceu que não pode mais andar?"
>essas palavras me atingiram como facas
>"desde o dia do acidente"
>"quando o carro capotou você ficou bastante ferido"
>"o kevin estava usando cinto e só quebrou um braço"
>"mas você foi jogado pra fora do carro"
>"foi um milagre ter sobrevivido"
>"desde então você perdeu o movimento da cintura pra baixo"
>entendo
>parece que não importa o futuro que eu crie eu teria que pagar um preço pra ver as pessoas ao meu lado salvas
>seria como uma espécie de sacrifício para poder viajar no tempo
>eu teria que aceitar isso, afinal tudo que aconteceu foi culpa minha
>e então tudo ficou escuro
>acordo num quarto de hospital, a naty e o eric lado da minha cama
>a naty chorando e o eric abraçando ela
>eu não entendia o que estava acontecendo
>então o médico entra no quarto
>"senhor marcos em todos os meus anos no ramo da medicina eu nunca vi um caso como o do senhor"
>"você sofreu uma estafa mental muito incomum"
>"o seu cérebro trabalhou o equivalente a 3 anos em apenas um dia"
>"eu não sei como ou porque isso aconteceu com o senhor mas eu espero que pare de fazer o que pode ter causado essa estafa"
>eu também espero doutor
>eu também espero
>a naty vira pro eric e diz:
>"que bom que ele está bem, amor"
>"nosso amigo é durão, querida"
>e então os dois se beijam
>eu não via aquela cena desde que conhecemos a naty
>eu pergunto o que foi aquilo
>"amor acho melhor explicarmos pra ele. acho que o cansaço afetou as memórias também" ela disse
>"cara quando você sofreu o acidente eu e a naty ficamos muito preocupados
>"desde que você deu entrada no hospital até a hora que recebeu alta nós dois mal saímos da sala de espera"
>"todo aquele tempo juntos meio que nos aproximou denovo"
>"quando o médico disse que você ia ficar bem nós ficamos muito felizes"
>"nós nos abraçamos e quando percebemos estavamos nos beijando"
>por fora eu estava calmo mas por dentro meu coração rachava
>mesmo após os anos que eu guardei mágoas da naty eu ainda sentia algo por ela
>e depois que eu descobri que ela não teve culpa do que o connor fez com ela o sentimento que eu reprimia tinha voltado com força total
>parece que eu não teria aquela outra chance depois afinal
>mas os dois estavam a salvo e felizes um com o outro
>parece que eu tinha criado um futuro aceitável afinal
>os dias se passaram depois desse incidente
>ir para a faculdade de cadeira de rodas era mais complicado do que eu imaginava
>mas eu não ligava muito
>eu tinha sido o único afetado dessa vez
>mas uma coisa ainda me incomodava
>eu ainda não sabia o que tinha acontecido com o connor
>resolvo pesquisar ele mas não o encontro em nenhuma rede social
>parece que ele ainda não era do tipo amigável
>pergunto pro eric se ele tinha alguma notícia dele
>"connor? não era aquele aluno de intercâmbio que estudou com a gente?"
>"não sei, nunca tive contato com aquele cara. ele era meio estranho"
>"mas se você quiser mesmo saber como ele está acho que devia ir pra reunião"
>"que reunião?"
>"a de 2 anos da nossa turma do ensino médio. vai ser lá no ginásio da antiga escola"
>"todo mundo já confirmou"
>no dia da reunião eu estava com diversas dúvidas
>eu não sabia se o connor seria o mesmo babaca nessa nova linha do tempo
>ou se ele ao menos iria à reunião
>depois que a naty me ajuda a entrar no carro a gente vai pra escola onde tinhamos cursado o ensino médio
>o eric não tinha mentido quando falou que todo mundo iria
>a sala inteira estava lá
>o kevin também
>quando ele falou comigo eu vi que ele se sentia culpado por eu estar na cadeira de rodas
>eu digo que a vida tem dessas e que o importante é superar e seguir em frente
>que irônico isso vindo de mim
>após dar umas voltas pelo ginásio realizo que o connor não estava lá
>pergunto para a antiga representante de classe se ela tinha notícias dele
>"agora que você falou eu não tenho muita certeza se eu realmente convidei ele"
>"mas acho que não faz muita diferença, afinal ele não interagia com ninguém na escola"
>"na verdade eu sempre tive um pouco de medo dele"
>se eu não o conhecesse eu teria sentido pena dele
>mas já que ele não estava lá não tinha nada que eu pudesse fazer
>resolvi curtir a festa com meus amigos
>tentar me acostumar com essa nova linha do tempo
>afinal eu viveria nela agora
>eram quase 11 da noite quando aconteceu
>todo mundo estava dançando
>quando o portão do ginásio é arrombado
>"olá, malditos"
>não levei muito tempo pra reconhecer o dono dessa voz
>era o connor
>ele estava igual a linha do tempo original
>a barba e um aspecto acabado
>só que ao contrário da última vez agora ele tinha um olhar psicótico e usava uma longa jaqueta preta
>"parece que vocês não esperavam me ver aqui essa noite"
>"uma pena eu ter que estragar essas expectativas"
>"por 3 anos vocês me trataram como lixo"
>"transformaram meu ensino médio num inferno"
>"nunca me convidaram pra suas festinhas de adolescentes burgueses"
>"nem ao menos falavam comigo"
>"VOCÊS SABEM COMO EU ME SENTI SEUS BASTARDOS?"
>"e agora vocês fazem essa festinha pra lembrar dos velhos tempos e eu nem ao menos sou convidado"
>"MAS ESSA FOI A ÚLTIMA VEZ"
>"A ÚLTIMA"
>coloque essa música: https://youtu.be/ l482T0yNkeo
>eu sabia onde isso ia parar mas já era tarde demais
>ele saca uma submetralhadora da jaqueta
>os segundos que se seguiram foram um verdadeiro caos
>várias pessoas sendo baleadas
>alguns tentavam correr mas era inútil
>a naty me leva pra trás de uma mesa enquanto o eric corria na nossa direção
>e então quando estava a poucos metros da gente
>o eric leva uma bala na cabeça
>e cai morto ao nosso lado
>eu fico em choque
>a naty se desespera e vai pra junto do seu corpo
>péssima ideia
>uma bala atinge a jugular dela
>e ela cai com a cabeça virada pro meu lado
>"marcos, eu estou indo" ela fala enquanto o sangue espirra do pescoço dela
>"mas antes de morrer eu queria te agradecer"
>"talvez você não saiba, mas eu sempre te amei"
>"mas eu vi que não era recíproco então tentei superar voltando a namorar com o eric"
>eu não conseguia falar nada, estava com lágrimas nos olhos e apenas escutava
>"você e o eric foram os melhores amigos que eu poderia ter"
>"se eu não tivesse ficado amiga de vocês provavelmente eu teria voltado pra minha cidade natal"
>"obrigado por ter feito parte da minha vida"
>"eu te amo"
>e então seus olhos se fecharam
>se fecharam pra nunca mais abrir
>eu não havia percebido até agora
>uma bala tinha atravessado meu peito
>enquanto eu sangrava para a morte
>mas eu não ligava
>as duas pessoas que eu mais amava estavam jogadas no chão ao meu lado, sem vida
>sinto um formigamento na cabeça
>eu sabia o que era
>mas dessa vez não doeu
>a dor que a viagem no tempo me causava não era nada comparada a dor que eu estava sentindo agora
>o ginásio da antiga escola começou a se desmanchar enquanto eu estava numa estrada para o inferno
>um inferno que eu mesmo criei...
>continua...
Parte 3 [FINAL]
>alguma vez você já amou?
>já se importou tanto com alguém a ponto de querer que ela fosse feliz não importando o quanto isso te destruísse?
>pois é
>nesse instante eu estava vendo as duas pessoas que eu mais amava mortas no chão à minha frente
>meu peito não parava de sangrar enquanto minha mente me levava para outro lugar
>outra época
>eu não sabia e nem me importava para onde eu iria
>qualquer lugar era melhor do que ali
>eu estava deixando o lugar e a última coisa que vi foi o connor atirando nas pessoas remanescentes do ginásio
>aquela expressão no rosto dele
>ela simplesmente não era humana
>de estuprador à assassino
>como alguém poderia se tornar tão ruim?
>quando percebo estou sentado com a cabeça baixa em uma carteira
>levanto e estava na sala de aula da minha escola do fundamental
>tinha 12 anos novamente
>na minha carteira estava a prova final totalmente em branco
>então era isso
>eu tinha voltado para a primeira vez em que viajei no tempo
>a dor na minha cabeça começa novamente
>mas tão rápido?
>eu tinha acabado de chegar
>não tinha tempo a perder
>responder a prova não importava mais
>eu tinha que fazer algo rápido para mudar o futuro
>pego meu lápis e vou para a mesa do professor
>"algum problema marcos?"
>cravo meu lápis no estômago do professor
>tomo cuidado para não acertar nenhum ponto vital
>não queria realmente matar ele
>apenas parecer que sim
>"VOCÊ ESTÁ FICANDO LOUCO?" ele grita
>a sala de aula começa a se desmanchar e eu só tenho tempo de gritar uma última coisa
>"EU VIAJO NO TEMPO"
>dessa vez eu acordo num quarto de hospital
>mesmo a viagem já tendo acabado minha cabeça ainda latejava
>tento me levantar mas me sentia fraco
>uma enfermeira entra no quarto
>"bom dia senhor marcos como se sente hoje?"
>ela falava comigo como se eu fosse uma criança
>"onde estou?"
>"mais uma vez com as crises de memória senhor marcos? o senhor está no mesmo lugar onde esteve nos últimos 7 anos"
>"essa clínica psiquiátrica tem sido seu lar desde que você decidiu virar um viajante do tempo assassino"
>meu plano tinha dado certo
>"mas agora deixa de enrolação, está na hora do seu remédio"
>não me lembro de muita coisa depois disso
>fiquei sedado com o efeito do remédio
>volto à mim quando já era noite
>precisava saber o que tinha acontecido com os outros nessa linha do tempo
>mas eu mal conseguia andar por causa do remédio
>então eu percebi que conseguia andar de novo
>um sorriso que durou um segundo se formou na minha boca
>ainda tinha que arranjar um jeito de conseguir notícias dos outros
>saio do quarto
>"noite difícil? todas são"
>"parece que finalmente resolveu sair do seu quarto"
>olho pro lado e vejo uma sombra no meio do corredor escuro
>"desculpe se te assustei"
>"pra ter ficado isolado todos esses anos você deve ser um sujeito bem perturbado"
>"meu nome é lucas, a propósito"
>"sei que estou falando demais mas você tem permissão pra andar nos corredores a essa hora?"
>ele se aproxima da luz e vejo que era um cara de uns 30 anos aparentemente
>"eu preciso de um computador ou outra coisa onde possa acessar a internet"
>"você está com um problema então pois o único computador que tem acesso a internet aqui fica no escritório do diretor geral"
>"teria que ser louco pra entrar lá"
>"entendeu?"
>"louco"
>"estamos num sanatório"
>"eu te ajudo a entrar, precisava de um pouco de ação mesmo"
>"mas depois que você estiver lá vai estar por sua própria conta"
>ele me leva à sala do diretor geral
>estava trancada mas ele consegue abrir com um grampo
>não podia desperdiçar tempo
>ligo o computador e já começo a pesquisar pela naty, o eric e o connor
>encontro o eric primeiro
>ele não tinha conseguido passar na faculdade nessa nova linha do tempo
>trabalhava num posto de gasolina pra ajudar a mãe com as contas
>consigo encontrar a naty
>ela largou a escola e agora era garçonete
>seus novos futuros não me agradavam mas pelo menos eles estavam vivos
>mas para encontrar o connor eu tive que apelar pra minhas habilidades de hacker
>não conseguia encontrar perfis virtuais dele e isso me preocupava
>até que uma notícia me chama a atenção
>"estuprador em série é preso em flagrante"
>a mesma notícia que eu tinha visto na tv na linha do tempo original
>só que eu não tinha visto a matéria toda da última vez
>clico em "ver mais"
>"o misterioso estuprador que aterrorizava certos bairros nobres da cidade foi preso nesta terça-feira num flagrante armado pela polícia"
>"a identidade do estuprador era ninguém menos que o jovem paulo connor, um jovem britânico que morava na região com o pai"
>"foi-se feita uma pesquisa pelo histórico do rapaz de quando ele ainda morava na inglaterra e foi descoberta uma coisa sórdida"
>"aparentemente esse lado criminoso de paulo já existia em território internacional"
>o que eu li a seguir fez meu coração parar de bater por uns segundos
>"acusado de estuprar a própria irmã caçula, paulo teve que se refugiar no brasil, onde usou de sua dupla cidadania pra ficar longe da jurisdição britânica"
>automaticamente eu lembro daquela vez no parque no dia que conhecemos o connor
>ele não quis dizer o motivo para os pais terem se divorciado
>agora eu sabia de tudo
>lembro de tudo que passei até agora
>e pensar que eu me sentia em parte culpado pelo que ele tinha se tornado
>mas ele já tinha deixado de ser humano muito antes de nos conhecer
>sinto uma mão no meu ombro
>viro e era o segurança da clínica
>o lucas tinha sumido
>o segurança injeta alguma coisa em mim e eu apago
>acordo no meu quarto novamente
>mas isso não adiantava de nada
>logo eu não estaria mais ali
>saber o que o connor fez era o que eu precisava para voltar no tempo uma última vez
>estava decidido a consertar tudo desde o começo
>eu iria por um fim nisso de uma vez por todas
>faria o connor finalmente ter o castigo dele
>chega de me contentar com linhas do tempo meia-bocas
>iria criar a melhor de todas
>ou morreria tentando
>eu me concentro num ponto do passado
>passam-se alguns segundos e nada acontece
>tento novamente, mais focado
>e novamente nada
>eu não estava conseguindo viajar
>talvez fosse o sedativo
>não, o efeito já tinha passado
>um flashback passa pela minha mente
>"você sofreu uma estafa mental muito incomum"
>"seu cérebro trabalhou o equivalente à 3 anos em apenas um dia"
>meu cérebro estava cansado
>isso queria dizer que eu estava preso naquela realidade
>o esforço me faz ficar mais cansado ainda
>só me lembro de acordar no dia seguinte
>o lucas estava em pé no meu quarto me olhando
>"onde você foi parar ontem? porque me abandonou?" pergunto
>"eu falei que só ia te ajudar a entrar"
>"não quero me meter em encrenca sendo que eu só te conheci ontem"
>"se eles pegarem você invadindo de novo pode ficar proibido de sair do quarto"
>"se você tivesse passado pelo que eu passei não ia se importar de ficar preso num quarto" respondo
>"eu preciso que você me ajude a entrar no lugar onde eles guardam os remédios"
>"está tentando se matar?"
>"de um certo modo, sim"
>ele ri e diz que vai me ajudar, afinal eu estava dando a ele uma diversão que ele não tinha há anos
>tenho o resto do dia para planejar meu plano final
>eu iria apostar tudo naquela última viagem
>tudo teria que ser perfeito
>sem mais erros
>sem mais preços a pagar
>a noite chega e o lucas chega no meu quarto depois que todos foram dormir
>"está pronto?" ele pergunta
>"como nunca estive antes"
>"pois trate de saber que depois daquela sua invasãozinha eles botaram uns 4 seguranças a mais para rondar os corredores à noite
>"dessa vez entrar vai ser muito mais difícil"
>"se tiver que desistir a hora é agora"
>começo a sorrir
>"como se eu fosse desistir a essa altura do campeonato"
>começamos a andar em direção ao depósito de remédios
>ele não tinha mentido quanto à segurança
>tivemos que nos esconder várias vezes quando ouvíamos passos
>em 20 minutos quase não tinhamos saído do lugar
>o caminho parecia infinito
>mas como eu disse não iria desistir agora
>estávamos quase lá
>agora só precisava que o lucas destrancasse a porta
>quando escutamos vários passos vindo em nossa direção
>três seguranças nos cercam
>como eles nos acharam
>e no meio do escuro eu consigo ver uma luz vermelha piscando
>tinha uma câmera naquele corredor
>então era isso?
>tudo iria acabar aqui
>"no meu sinal você se tranca no depósito"
>"vou tentar ganhar algum tempo"
>"o que você está dizendo, lucas? você vai se encrencar por minha causa"
>"é, mas se você está arriscando tudo pra entrar aqui é porque é realmente importante pra você"
>"ou talvez você seja muito louco mesmo"
>"agora VAI"
>ele pula em cima dos seguranças e começa a socar um deles
>eu me tranco no depósito e começo a procurar o que estava querendo
>tinha que ter um pouco ali
>escuto sons de luta do lado de fora mas eu não podia ir ajudar ele
>eu não teria outra chance depois
>estava quase me dando por vencido até que eu encontro dentro de uma caixa
>adrenalina
>tinha uma injeção inteira ali
>eu não sabia se iria encontrar aquilo ali
>ou se daria certo
>pela primeira vez eu estava à mercê da sorte
>eu não escutava mais o lucas
>uma poça de sangue começa a escorrer por debaixo da porta
>"droga, acho que me exaltei. esse aí já era" escuto um segurança falar
>"tudo bem cara, qualquer coisa podemos alegar legítima defesa
>"estou cansado desses malucos. eles só dificultam meu trabalho"
>"vamos logo pegar o outro que está aí dentro"
>eu estava cansado
>cansado de ver as pessoas morrerem por minha causa
>aquela
>aquela iria ser a última vez
>eu juro
>injeto tudo de uma vez direto no meu coração
>e então tudo pareceu desacelerar
>pego uma bandeja de metal e vejo meu reflexo
>minhas pupilas dilataram completamente
>sentia meu coração bater duas vezes mais rápido
>me senti forte como nunca antes
>estava na hora
>ia escrever o capítulo final
>os seguranças arrombam a porta
>mas não havia nada que eles pudessem fazer agora
>antes deles me alcançarem eu já não estava mais lá
>dessa vez não senti a dor da viagem no tempo
>a adrenalina tinha neutralizado isso
>como eu disse, iria reescrever tudo desde o início
>minha primeira parada foi o dia onde tudo começou
>vou para o dia da minha prova final
>acordo com a cabeça em cima da minha carteira, como da última vez
>minha prova estava em branco
>olho pro meu professor e ele não estava sangrando pela barriga
>que bom
>deu certo
>mas eu não podia perder tempo ali
>não sabia quanto tempo a adrenalina duraria
>respondo a prova dessa vez
>por incrível que pareça eu ainda lembrava as respostas
>entrego a prova e quando saio da sala foco na minha próxima parada
>eu nunca tinha viajado mais de uma vez seguida
>não sabia o que iria acontecer
>mas agora não era hora para hesitar
>meu destino agora era a festa da escola onde nós conhecemos a naty
>acordo no banheiro da escola
>eric me esperava do lado de fora
>"tudo bem, cara? escutei você caindo lá dentro"
>"foi só uma tontura, eu to legal"
>vamos para o pátio da escola e lá estava ela
>tão linda como da primeira vez que eu vi ela
>eu não podia deixar o eric ver ela ou tudo aconteceria novamente
>peço pra ele ir pegar algo pra gente beber e vou falar com ela
>"oi, tudo bem?" ela diz quando vê eu me aproximando
>e então eu falei algo que faz eu sentir nojo de mim até hoje
>"cala essa boca, sua garotinha do interior idiota"
>"acha mesmo que alguém quer ser seu amigo aqui?"
>"volta para onde você veio"
>"você vai ser uma fracassada mesmo"
>"provavelmente vai terminar a vida como garçonete"
>ela fica irada e fala pra mim
>"moleque estúpido, eu nem queria estudar aqui mesmo"
>"você vai ver. eu vou vencer na vida"
>"todos vocês vão ver"
>ela se vira e vai embora chorando
>sussurro para mim mesmp
>"adeus"
>vejo o eric voltando com as bebidas mas eu já estava indo para minha próxima parada
>o dia em que conheci o connor
>eu pensei mil vezes antes de resolver fazer essa parte do plano
>e realmente aquela era a melhor opção
>eu sabia que se o connor não fizesse aquilo com a naty ele ia fazer com outra garota
>eu podia impedir isso
>pela irmã dele
>dessa vez a viagem no tempo doeu um pouco
>o efeito da adrenalina estava passando
>entro na sala de aula e o kevin vem me convidar para o racha, como da última vez
>digo que não poderia ir mas peço o notebook dele para pegar as informações
>como agradecimento ele só teria que me dar um pouco do dinheiro no dia seguinte
>o connor estava no fundo da sala sozinho
>vou falar com eric
>eu sabia que os traficantes que ele tinha se envolvido na primeira linha do tempo que eu criei eram os mesmos que ele conseguia um pouco de maconha de vez em quando
>peço o contato dos caras para ele
>ele me passa o número mas se assusta
>"você não vai fazer nenhuma besteira, né?"
>"não"
>eu já estava feito muito disso
>saio da sala e ligo pro cara
>faço uma encomenda para o dia seguinte
>também pergunto se ele não conhece alguém que possa fazer um serviço para mim
>depois que eu resolvo tudo eu avanço para o dia seguinte
>dessa vez doeu mais do que o normal
>mas eu teria que aguentar até terminar tudo
>não podia deixar falhas
>encontro com o traficante pouco antes da aula começar
>pego 2 pacotes de crack e pago com metade do dinheiro que o kevin tinha me dado
>e dou a outra metade para o serviço que ele tinha me arranjado
>agora eu só tinha que fazer mais uma coisa
>vou para a aula e espero dar a hora do intervalo
>espero todo mundo sair da sala e volto sem ninguém ver
>pego os pacotes de crack e ponho na mochila do connor
>escrevo uma denúncia anônima num papel e enfio por baixo da porta do inspetor
>quando o intervalo acaba o inspetor aparece na sala
>ele fala da denúncia e revista as mochilas de todo mundo
>a última era a do connor
>além dos pacotes de crack ele ainda encontrou uma glock que já estava lá antes de eu mexer
>o cara era psicopata em vários níveis
>o inspetor chama a polícia e em alguns minutos o connor foi levado dali
>foi acusado de tráfico internacional de drogas e porte ilegal de armas
>iria ficar preso durante o final de semana e depois seria deportado para a inglaterra para responder os crimes lá
>mas ele nem chegaria a sair do país
>caio no chão cospindo sangue, meus colegas me olhando assustados
>meu corpo estava começando a falhar
>avanço para o dia seguinte novamente
>dessa vez eu não iria fazer nada
>só confirmar se o cara que contratei tinha cumprido o acordo
>abro o whatsapp e lá estava uma foto do connor enforcado dentro da cela
>estava acabado
>não me orgulho do que fiz
>mas foi a última opção
>apago a foto, bloqueio o cara e o traficante e apago qualquer dado que pudesse ser usado pra me rastrear
>me sinto tonto
>sangue escorria do meu nariz
>acho que era o fim para mim
>não iria viver para ver o futuro que eu tinha criado
>mas eu tinha certeza que seria bom
>tudo fica escuro
>...
>coloque essa música: https://youtu.be/ dhZUsNJ-LQU
>"cara"
>"cara, acorda"
>"você vai se atrasar pra faculdade"
>abro meus olhos
>era o eric de 19 anos
>"o quê?" respondo
>"a aula cara. você vai se atrasar"
>"cade a naty?" pergunto
>"quem é naty?" ele responde
>"ah, não... não é ninguém. acho que estou de ressaca"
>"de qualquer forma se arruma logo ou a gente perde o ônibus"
>ele sai do quarto e eu viro na cama
>um leve sorriso aparece no meu rosto
>eu estava enfim em paz
>...
>8 anos depois
>cá estava eu aos meus 27 anos
>terminei a faculdade e agora eu e o eric dividíamos um bom apartamento na capital
>trabalhava numa grande agência de advocacia
>ele tinha vários projetos com a prefeitura e estava noivo
>em breve iria se mudar
>estava na rua indo em direção a casa de um cliente
>era um dia bem movimentado
>várias pessoas na calçada
>falava no telefone enquanto andava
>e então no meio da multidão eu consigo reconhecer uma pessoa vindo na direção contrária a minha
>era a naty
>ela estava linda como nunca
>estava muito bem vestida
>carregava uma pasta transparente com um estetoscópio e um jaleco com "doutora natália" bordado
>ela tinha cumprido sua promessa
>conseguiu vencer na vida
>eu passo por ela e paro
>sinto que ela estava me olhando
>viro a cabeça e vejo que ela tinha parado também
>ela começa a andar e eu sinto vontade de ir atrás dela
>lembro de todas as linhas do tempo que eu tinha criado
>em nenhuma delas nós terminamos juntos
>e quando eu tentava fazer isso algo ruim acontecia
>se eu não tivesse aprendido essa lição eu iria ser o ser mais tolo que já existiu
>parece que eu teria que pagar um preço afinal
>e dessa vez o preço seria ela
>volto minha cabeça e começo a andar novamente
>enquanto nós dois nos misturávamos
>no meio da multidão
>fim
>eu sei que você já se arrependeu de algo que tenha feito, seja direta ou indiretamente
>todos nós já sentimos isso
>me diga
>você gostaria de ter outra chance para fazer tudo direito?
>é
>eu sei que sim
>mas isso nunca é a melhor solução
>acredite em mim
>eu aprendi isso da pior maneira
>a teoria do efeito borboleta diz que se uma borboleta bater as suas asas no tempo e lugar certos, pode causar um furacão do outro lado do mundo
>deixe-me te contar a história de como minha vida se transformou num pesadelo
>a pior parte?
>é que foi tudo culpa minha
>antes que eu me esqueça
>meu nome é marcos
>tenho 19 anos
>eu tenho família, vou pra escola, tenho amigos
>eu levo uma vida aparentemente normal, exceto por uma coisa
>eu sofro de DTM
>distúrbio temporal mental
>uma doença muito rara
>em toda a história só encontrei outros 4 casos relatados iguais ao meu
>outras 4 pobres almas amaldiçoadas
>o que acontece é que quando eu me concentro muito em certo ponto da minha vida eu posso enviar a minha mente de volta àquele momento
>era como se eu estivesse vivendo aquilo de novo
>eu descobri essa minha habilidade há 7 anos atrás, quando eu tinha 12 anos, de uma maneira muito boba
>era época de provas finais na escola e eu não tinha conseguido a nota que precisava pra passar
>meus pais ficaram muito decepcionados comigo por repetir de ano
>passei aquela tarde inteira me odiando
>eu queria tanto voltar no tempo e refazer aquela prova
>eu me concentrei tanto nesse pensamento que de repente algo aconteceu
>minha cabeça começou a doer de forma incontrolável
>parecia que ela ia explodir de tanta dor
>eu queria gritar, urrar, mas não conseguia
>e então, do nada
>a dor parou
>eu abri os meus olhos e não entendi o que estava acontecendo
>eu estava na escola, na minha sala
>eu olho para minha frente e lá estava a prova final, completamente em branco
>eu sabia que já tinha vivido isso
>eu já tinha feito aquela prova
>mas dessa vez era diferente
>dessa vez eu sabia as respostas
>sou o primeiro a terminar a prova
>quase que instantaneamente após eu sair da sala
>a dor na minha cabeça volta
>tão forte quanto da última vez
>eu caio no chão, me contorcendo
>a dor para e percebo que estou no meu quarto novamente
>eu estava confuso, aquilo só podia ter sido um sonho
>mas foi real demais para ser um sonho
>eu olho para o lado e lá estava minha prova jogada no chão
>só que agora ela estava com a nota máxima
>eu saio do meu quarto e meus pais vem me abraçar
>eles não estavam mais decepcionados comigo
>pelo contrário
>eles estavam me dando parabéns por ter sido aprovado
>foi aí que eu percebi
>aquilo realmente tinha acontecido
>naquela mesma noite eu esperei meus pais irem dormir e comecei a pesquisar o que tinha acontecido
>eu fiz certo em não contar para os meus pais
>em todos os casos que encontrei os pacientes foram internados em clínicas psiquiátricas após ficarem supostamente loucos dizendo que tinham que "consertar" os seus erros
>só isso já me servia de aviso
>mas eu não precisava ler isso pra saber que eu não devia usar minha habilidade de novo
>eu já tinha assistido muitos filmes de viagem no tempo
>e sabia que mudar o passado sempre criava problemas e/ou piorava as coisas
>então os anos foram passando
>5 anos para ser mais exato
>cá estava eu com meus 17 anos
>terminando a escola
>tinha 3 amigos que eram praticamente minha segunda família
>connor, eric e naty
>connor era filho de uma britânica e um brasileiro mas veio pro Brasil depois que os pais se divorciaram
>eric era meu melhor amigo desde pequeno e era a única pessoa pra quem eu tinha contado o que eu sabia fazer
>e naty, que não era só minha amiga como também namorava com ela há mais de um ano
>no começo éramos só o eric e eu
>até que numa festa da escola no começo do ano passado nós conhecemos a naty
>tinha sido transferida de uma cidade do interior por causa do trabalho do pai
>naquele mesmo dia ela ficou com o eric
>depois disso ela começa a andar com a gente na escola
>era parceira d+++
>a gente gostava das mesmas coisas, jogávamos os mesmos jogos
>ela era mais zueira que muito cara lá da escola
>depois de um tempo ela e o eric não estavam mais ficando
>mas a amizade tinha prevalecido
>só que eu estava me sentindo estranho em relação a ela
>pra mim já não era mais só amizade
>eu realmente estava gostando dela
>só que eu não disse nada por causa do rolo dela com o eric
>menina nenhuma ia estragar uma amizade de uma vida
>algumas semanas depois o connor chega na escola
>na época ele estava meio deslocado por causa do divórcio dos pais
>não falava com ninguém, só ficava sozinho no fundo da sala
>os dias foram passando e ele ainda não tinha feito amizade com ninguém
>até que um dia eu resolvo ir falar com ele
>entro na sala e um antigo amigo meu diz que um pessoal ta organizando um racha depois da aula e pergunta se eu quero ir
>digo que não posso
>chamo o connor pra dar um rolê com a gente depois da aula
>ele fez umas expressão de alívio, como se achasse que ninguém nunca ia falar com ele
>no rolê ele conta pra gente porque veio pro Brasil
>que os pais dele ainda se gostavam mas se separaram por causa de uma briga de família
>ele não quis dizer o porquê da briga
>só que depois do divórcio o pai ficou com ele e a mãe com a irmã dele
>a gente passou a tarde numa praça perto da escola
>quando o sol começou a se pôr o connor e o eric tiveram que ir emborar pois moravam em bairros distantes e tinham que pegar o busão
>ficamos só eu e a naty sentados num banquinho da praça
>conversamos sobre coisas aleatórias
>até que de repente ela começa a ficar meio inquieta, como se quisesse contar alguma coisa
>pergunto se ela tinha alguma coisa pra me falar
>"marcos, eu sei que eu estava ficando com o eric e que vocês dois são muito amigos, mas de um tempo pra cá eu venho gostando de você"
>parecia bom demais pra ser verdade
>eu não disse nada apenas beijei ela
>como eu queria que aquele momento não acabasse
>no dia seguinte eu conto o que aconteceu pro eric
>eu pensei que ele ia ficar bravo mas ele deu o maior apoio
>foi a partir daí que eu e a naty começamos a namorar
>depois disso nós 4 nos tornamos inseparáveis
>muitas vezes eu pensei em contar pra eles sobre a minha situação
>mas aí eu me lembrava do que tinha acontecido com os outros iguais a mim
>eu não queria que pensassem que eu era louco
>mesmo o eric que era meu melhor amigo teve suas dúvidas quando eu contei pra ele
>o tempo passou
>era o último dia de aula do terceiro ano
>o playboy da sala estava organizando uma festa de fim de ano na casa dele pois os pais tinham viajado
>a turma já fica animada, a gente nunca perdia uma festa
>ainda mais a de despedida do ensino médio
>tinha um dinheiro que eu já vinha juntando a algum tempo
>ia comprar as melhores bebidas e tomar com meus amigos na festa
>quando estou no mercado ligo pra naty e digo pra eles que iria me atrasar e pra eles irem primeiro pra festa e eu chegava depois
>quando chego na casa do playboy a festa já estava no ápice
>procuro pelo pessoal de quarto em quarto
>quando eu abro a porta do quarto dos pais do playboy
>eu vejo algo que me destrói por dentro
>o connor estava em cima da naty, os doi pelados
>eu não podia acreditar no que estava vendo
>eu já nem sabia mais o que fazer
>eu só queria ir pra casa
>deitar na minha cama e esquecer o resto do mundo
>e foi o que fiz
>pela primeira vez em anos eu cogitei a ideia de usar minha habilidade
>voltar um dia no passado e me impedir de ir para aquela festa
>na manhã seguinte eu não tive forças para sair da cama
>por volta da hora do almoço a naty vem na minha casa
>disse que queria falar sobre algo que aconteceu na festa
>que o connor tinha obrigado ela a fazer algo que ela não queria
>que ele tinha estuprado ela
>nessa hora a tristeza que eu estava sentindo se transformou em raiva
>como ela podia ter feito isso comigo e ainda inventar uma mentira dessa?
>falo que nunca mais quero ver ela
>ela começa a chorar e eu a expulso de casa
>cortei contato com o connor também
>o que era um quarteto voltou a ser a velha dupla de antes
>agora vamos avançar 2 anos
>tinha acabado de completar 19 anos
>estou cursando o quarto período de direito na faculdade
>eric está na mesma universidade que eu só que no curso de engenharia elétrica
>nunca mais tivemos notícias da naty nem do connor
>pelo menos até semana passada
>estava vendo o noticiário enquanto me arrumava para sair de casa
>até que aparece a notícia
>"estuprador em série é preso em flagrante"
>a foto do cara me era familiar
>e então eu percebo
>era o connor
>só que ele estava muito diferente
>estava com uma barba e uma aparência acabada
>quase que imediatamente eu lembro das palavras que a naty me disse da última vez que eu vi ela
>que o connor tinha obrigado ela
>eu tinha cometido um erro terrível
>vou pra faculdade o mais rápido que eu pude
>encontro o eric e pergunto se ele tinha notícias da naty
>ele então olha pra baixo e fica em silêncio
>um silêncio estranho e assustador
>"eu não contei porque você tinha dito que não queria mais saber dela"
>"marcos, a naty se matou há 3 meses atrás"
>"parece que depois que a escola acabou ela engravidou e o pai a expulsou de casa"
>"ela abortou o bebê e desde então vinha sofrido de depressão"
>eu tinha prometido
>prometido pra mim mesmo que nunca mais faria isso
>eu sabia que poderiam haver consequências
>mas a vida dela tinha acabado por minha culpa
>porque eu não acreditei nela
>porque eu não protegi ela
>era minha responsabilidade consertar isso
>penso no dia daquela festa como se fosse a coisa mais importante do mundo
>e então a dor
>a dor que eu não sentia a 7 anos
>só que desta vez estava mais forte
>caio no chão agonizando
>eric tenta me ajudar
>mas num piscar de olhos ele não está mais lá
>mas na verdade eu que não estava mais lá
>agora eu estava no chão do mercado que eu fui a 2 anos
>algumas pessoas estavam me olhando
>mas eu não tinha tempo pra isso
>comecei a correr o mais rápido que pude
>eu não deixaria aquilo acontecer de novo
>entro na festa e vou direto para o quarto como da última vez
>me deparo com o connor tirando a roupa da naty
>ela tentava parar mas parecia que não tinha força pra isso
>ele tinha drogado ela
>aquele desgraçado
>eu pulo em cima dele e começo a socar a cara dele
>alguém vê a briga pelo lado de fora do quarto e começa a pedir socorro
>connor me empurra pra longe e tenta fugir
>eu vou atrás dele e por pouco ele não acerta um peso de papel na minha cabeça
>nessa hora uma fúria incontrolável toma conta de mim
>ele trai a minha amizade, tenta estuprar a minha namorada e ainda tenta me matar?
>eu jogo ele no chão e começo a estrangular ele
>enquanto ele se debatia eu queria parar
>mas então flashes de memória passavam pela minha cabeça
>"ele me obrigou"
>"estuprador em série é preso"
>"a naty se matou há 3 meses atrás"
>o connor estava começando a parar de lutar
>enquanto eu escutava gente vindo em direção ao quarto
>e então o silêncio
>escutei gritos de terror atrás de mim
>mas eu tinha feito o certo
>enquanto me arrastavam pra longe do corpo do connor a dor volta novamente
>o quarto em que eu estava vai se desfazendo
>e então eu acordo num chão frio
>estava num cômodo vazio com apenas uma cama, uma pia e uma janela gradeada
>olho para minha frente e só vejo barras
>de um certo modo eu já esperava que isso acontecesse
>um policial aparece e diz que tinha visita pra mim
>era a naty
>meu coração acelera de felicidade
>eu fico feliz de ver que ela ainda estava viva, passar uns anos na cadeia era um preço baixo a pagar por salvar a vida dela
>mas quando ela se aproxima meu sorriso se desfaz
>ela estava chorando
>com certeza estava trazendo más notícias
>e o meu medo era que eu tivesse sido o causador dessas más notícias
>"marcos, nosso maior medo se realizou"
>eu não entendo nada, só fico escutando ela terminar de falar
>"eles descobriram o que o eric estava fazendo e deram uma surra nele"
>"ele está em estado crítico no hospital"
>"os médicos dizem que ele não passa dessa noite"
>fico confuso, peço pra ela me explicar melhor
>"você está ficando louco? você sabe que quando foi preso o eric começou a ajudar seus pais a pagar o advogado"
>"ele acabou se envolvendo com tráfico e começou a pegar uma pequena parte do lucro para conseguir mais dinheiro"
>"eu disse pra ele que eles iam descobrir, mas ele não me deu ouvidos. ele só queria ajudar você"
>caio de joelhos naquela cela e começo a chorar
>coloque essa música: https://youtu.be/
>eu não podia acreditar no que eu tinha feito
>lembra o que eu falei sobre viagem no tempo?
>isso sempre piora as coisas
>eu não tinha salvado uma vida
>eu apenas tinha trocado uma pela outra
>como eu pude ser tão idiota?
>e agora meu melhor amigo iria pagar o preço pelo meu egoísmo
>porque eu não pude lidar com a culpa
>mas talvez
>talvez ainda não fosse tarde demais
>ainda não estava tudo perdido
>se eu voltasse mais uma vez
>para um pouco mais no passado
>eu poderia deixar tudo como era antes
>eu não poderia cometer mais erros
>pois eu iria correr pra corrigir os que eu mesmo já havia criado
>continua...
Pessoal, espero que tenham gostado. A continuação vai sair assim que eu conseguir a permissão de um adm
Parte 2 [AUTORIZADO PELO IAGO E PELO LUCAS]
>o tempo é uma coisa curiosa
>uns não dão a mímina pra ele
>outros dizem que tempo é dinheiro
>pois ele também é valioso
>mas uma coisa é verdade
>se você não souber administrar irá perder os dois
>agora eu me encontrava no chão da minha cela novamente
>a naty ajoelhada do meu lado gritando por socorro
>as convulsões causadas pela dor que eu sentia não eram o que me preocupava agora
>precisava focar em outro lugar
>outra época
>mas eu já sabia pra onde ir
>o dia em que o quarteto foi formado
>os guardas entraram na cela pra tentar me ajudar
>mas já era tarde
>eu não estava mais lá
>acordo no meu quarto com 16 anos de novo
>olho no meu relógio
>tinha chegado no dia certo
>agora eu só precisava pensar em um jeito de fazer as coisas serem de um jeito diferente
>me arrumo rápido pra ir à escola
>quando entro na sala um velho amigo meu me convida pra um racha que o pessoal tava organizando depois da aula
>eu lembro disso
>da última vez eu recusei
>mas agora eu aceito
>quando eu sento na minha carteira a naty pergunta se eu vou poder ir com ela e o eric no parque depois da aula
>falo que não posso porque vou pro racha com os caras
>ela acha estranho e diz que eu não sou disso
>me fala pra tomar cuidado
>quando ela vai pra carteira dela eu olho pra trás
>lá estava o connor sentado no fundo da sala
>sozinho
>eu não iria virar amigo desse maldito dessa vez
>quando acaba a aula eu vou encontrar meu amigo do lado de fora da escola
>ele já estava esperando no carro dele
>o carro era um golzinho quando ele comprou mas ele customizou com várias peças tunadas
>entro no carro e pergunto onde vai ser a corrida
>ele diz que numa estradinha deserta perto da divisa da cidade
>chego no local e tem vários carros customizados
>meu amigo vira pra mim e me pede um favor
>ele pede que eu hackeie os computadores dos outros caras pra obter informações dos carros deles
>agora eu entendi porque ele tinha me convidado
>mas não vejo porque não fazer aquele favor pra ele
>ele sempre tinha sido legal comigo e eu precisava ficar la pra não ir pro parque
>não foi um trabalho difícil
>eu sempre manjei um pouco de hacking
>em poucos minutos eu já tinha posto as informações de todos os competidores num pendrive e entregado a ele
>não que eu precisasse ter feito isso
>meu amigo corria muito bem
>ganhou todos os rachas que participou
>na hora de ir embora ele tinha uma sacola cheia de dinheiro
>ele pede desculpa por ter me usado pra conseguir aquelas informações mas precisava do dinheiro pra pagar umas dívidas
>"tudo bem, kevin. fico feliz em ajudar"
>como agradecimento ele me dá uma parte do dinheiro
>já estava bem tarde quando ele estava indo me deixar em casa
>a estradinha estava bastante escura
>estávamos perto de uma encruzilhada e eu pensava no que eu tinha sacrificado pra melhorar o futuro
>como eu não fui pro parque eu não iria começar a namorar com a naty
>mas precisava ser feito
>eu poderia ter outra chance depois de dizer o que sentia por ela
>meus pensamentos são interrompidos por um barulho de buzina
>uma caminhonete com os faróis queimados corta a gente
>meu amigo faz uma manobra pra desviar da caminhonete mas perde o controle
>o carro capota
>no meio de tantas dores que eu sentia no meu corpo
>eu consegui sentir uma que eu ja conhecia
>sabia o que estava prestes a acontecer
>mas não sabia o que iria estar me esperando
>mais uma vez eu acordo no meu quarto
>a dor na cabeça ja havia sumido mas ela não era a única coisa que eu não sentia
>eu tento levantar mas não conseguia
>fico desesperado
>grito por socorro
>o eric de 19 anos entra no meu quarto
>não consigo me conter de felicidade por ele estar bem e por um instante esqueço que não sentia minhas pernas
>a naty entra logo atrás dele e perguntam o que tinha acontecido
>falo que foi apenas um pesadelo e peço pra eles me ajudarem a levantar
>eles se olham e viram pra mim com um ar de estranhamento
>"poxa me ajudem a levantar logo. eu quero dar um abraço em vocês"
>"você está bem mesmo?"
>"claro que estou, cara. o que ta acontecendo com vocês?"
>"marcos, você esqueceu que não pode mais andar?"
>essas palavras me atingiram como facas
>"desde o dia do acidente"
>"quando o carro capotou você ficou bastante ferido"
>"o kevin estava usando cinto e só quebrou um braço"
>"mas você foi jogado pra fora do carro"
>"foi um milagre ter sobrevivido"
>"desde então você perdeu o movimento da cintura pra baixo"
>entendo
>parece que não importa o futuro que eu crie eu teria que pagar um preço pra ver as pessoas ao meu lado salvas
>seria como uma espécie de sacrifício para poder viajar no tempo
>eu teria que aceitar isso, afinal tudo que aconteceu foi culpa minha
>e então tudo ficou escuro
>acordo num quarto de hospital, a naty e o eric lado da minha cama
>a naty chorando e o eric abraçando ela
>eu não entendia o que estava acontecendo
>então o médico entra no quarto
>"senhor marcos em todos os meus anos no ramo da medicina eu nunca vi um caso como o do senhor"
>"você sofreu uma estafa mental muito incomum"
>"o seu cérebro trabalhou o equivalente a 3 anos em apenas um dia"
>"eu não sei como ou porque isso aconteceu com o senhor mas eu espero que pare de fazer o que pode ter causado essa estafa"
>eu também espero doutor
>eu também espero
>a naty vira pro eric e diz:
>"que bom que ele está bem, amor"
>"nosso amigo é durão, querida"
>e então os dois se beijam
>eu não via aquela cena desde que conhecemos a naty
>eu pergunto o que foi aquilo
>"amor acho melhor explicarmos pra ele. acho que o cansaço afetou as memórias também" ela disse
>"cara quando você sofreu o acidente eu e a naty ficamos muito preocupados
>"desde que você deu entrada no hospital até a hora que recebeu alta nós dois mal saímos da sala de espera"
>"todo aquele tempo juntos meio que nos aproximou denovo"
>"quando o médico disse que você ia ficar bem nós ficamos muito felizes"
>"nós nos abraçamos e quando percebemos estavamos nos beijando"
>por fora eu estava calmo mas por dentro meu coração rachava
>mesmo após os anos que eu guardei mágoas da naty eu ainda sentia algo por ela
>e depois que eu descobri que ela não teve culpa do que o connor fez com ela o sentimento que eu reprimia tinha voltado com força total
>parece que eu não teria aquela outra chance depois afinal
>mas os dois estavam a salvo e felizes um com o outro
>parece que eu tinha criado um futuro aceitável afinal
>os dias se passaram depois desse incidente
>ir para a faculdade de cadeira de rodas era mais complicado do que eu imaginava
>mas eu não ligava muito
>eu tinha sido o único afetado dessa vez
>mas uma coisa ainda me incomodava
>eu ainda não sabia o que tinha acontecido com o connor
>resolvo pesquisar ele mas não o encontro em nenhuma rede social
>parece que ele ainda não era do tipo amigável
>pergunto pro eric se ele tinha alguma notícia dele
>"connor? não era aquele aluno de intercâmbio que estudou com a gente?"
>"não sei, nunca tive contato com aquele cara. ele era meio estranho"
>"mas se você quiser mesmo saber como ele está acho que devia ir pra reunião"
>"que reunião?"
>"a de 2 anos da nossa turma do ensino médio. vai ser lá no ginásio da antiga escola"
>"todo mundo já confirmou"
>no dia da reunião eu estava com diversas dúvidas
>eu não sabia se o connor seria o mesmo babaca nessa nova linha do tempo
>ou se ele ao menos iria à reunião
>depois que a naty me ajuda a entrar no carro a gente vai pra escola onde tinhamos cursado o ensino médio
>o eric não tinha mentido quando falou que todo mundo iria
>a sala inteira estava lá
>o kevin também
>quando ele falou comigo eu vi que ele se sentia culpado por eu estar na cadeira de rodas
>eu digo que a vida tem dessas e que o importante é superar e seguir em frente
>que irônico isso vindo de mim
>após dar umas voltas pelo ginásio realizo que o connor não estava lá
>pergunto para a antiga representante de classe se ela tinha notícias dele
>"agora que você falou eu não tenho muita certeza se eu realmente convidei ele"
>"mas acho que não faz muita diferença, afinal ele não interagia com ninguém na escola"
>"na verdade eu sempre tive um pouco de medo dele"
>se eu não o conhecesse eu teria sentido pena dele
>mas já que ele não estava lá não tinha nada que eu pudesse fazer
>resolvi curtir a festa com meus amigos
>tentar me acostumar com essa nova linha do tempo
>afinal eu viveria nela agora
>eram quase 11 da noite quando aconteceu
>todo mundo estava dançando
>quando o portão do ginásio é arrombado
>"olá, malditos"
>não levei muito tempo pra reconhecer o dono dessa voz
>era o connor
>ele estava igual a linha do tempo original
>a barba e um aspecto acabado
>só que ao contrário da última vez agora ele tinha um olhar psicótico e usava uma longa jaqueta preta
>"parece que vocês não esperavam me ver aqui essa noite"
>"uma pena eu ter que estragar essas expectativas"
>"por 3 anos vocês me trataram como lixo"
>"transformaram meu ensino médio num inferno"
>"nunca me convidaram pra suas festinhas de adolescentes burgueses"
>"nem ao menos falavam comigo"
>"VOCÊS SABEM COMO EU ME SENTI SEUS BASTARDOS?"
>"e agora vocês fazem essa festinha pra lembrar dos velhos tempos e eu nem ao menos sou convidado"
>"MAS ESSA FOI A ÚLTIMA VEZ"
>"A ÚLTIMA"
>coloque essa música: https://youtu.be/
>eu sabia onde isso ia parar mas já era tarde demais
>ele saca uma submetralhadora da jaqueta
>os segundos que se seguiram foram um verdadeiro caos
>várias pessoas sendo baleadas
>alguns tentavam correr mas era inútil
>a naty me leva pra trás de uma mesa enquanto o eric corria na nossa direção
>e então quando estava a poucos metros da gente
>o eric leva uma bala na cabeça
>e cai morto ao nosso lado
>eu fico em choque
>a naty se desespera e vai pra junto do seu corpo
>péssima ideia
>uma bala atinge a jugular dela
>e ela cai com a cabeça virada pro meu lado
>"marcos, eu estou indo" ela fala enquanto o sangue espirra do pescoço dela
>"mas antes de morrer eu queria te agradecer"
>"talvez você não saiba, mas eu sempre te amei"
>"mas eu vi que não era recíproco então tentei superar voltando a namorar com o eric"
>eu não conseguia falar nada, estava com lágrimas nos olhos e apenas escutava
>"você e o eric foram os melhores amigos que eu poderia ter"
>"se eu não tivesse ficado amiga de vocês provavelmente eu teria voltado pra minha cidade natal"
>"obrigado por ter feito parte da minha vida"
>"eu te amo"
>e então seus olhos se fecharam
>se fecharam pra nunca mais abrir
>eu não havia percebido até agora
>uma bala tinha atravessado meu peito
>enquanto eu sangrava para a morte
>mas eu não ligava
>as duas pessoas que eu mais amava estavam jogadas no chão ao meu lado, sem vida
>sinto um formigamento na cabeça
>eu sabia o que era
>mas dessa vez não doeu
>a dor que a viagem no tempo me causava não era nada comparada a dor que eu estava sentindo agora
>o ginásio da antiga escola começou a se desmanchar enquanto eu estava numa estrada para o inferno
>um inferno que eu mesmo criei...
>continua...
Parte 3 [FINAL]
>alguma vez você já amou?
>já se importou tanto com alguém a ponto de querer que ela fosse feliz não importando o quanto isso te destruísse?
>pois é
>nesse instante eu estava vendo as duas pessoas que eu mais amava mortas no chão à minha frente
>meu peito não parava de sangrar enquanto minha mente me levava para outro lugar
>outra época
>eu não sabia e nem me importava para onde eu iria
>qualquer lugar era melhor do que ali
>eu estava deixando o lugar e a última coisa que vi foi o connor atirando nas pessoas remanescentes do ginásio
>aquela expressão no rosto dele
>ela simplesmente não era humana
>de estuprador à assassino
>como alguém poderia se tornar tão ruim?
>quando percebo estou sentado com a cabeça baixa em uma carteira
>levanto e estava na sala de aula da minha escola do fundamental
>tinha 12 anos novamente
>na minha carteira estava a prova final totalmente em branco
>então era isso
>eu tinha voltado para a primeira vez em que viajei no tempo
>a dor na minha cabeça começa novamente
>mas tão rápido?
>eu tinha acabado de chegar
>não tinha tempo a perder
>responder a prova não importava mais
>eu tinha que fazer algo rápido para mudar o futuro
>pego meu lápis e vou para a mesa do professor
>"algum problema marcos?"
>cravo meu lápis no estômago do professor
>tomo cuidado para não acertar nenhum ponto vital
>não queria realmente matar ele
>apenas parecer que sim
>"VOCÊ ESTÁ FICANDO LOUCO?" ele grita
>a sala de aula começa a se desmanchar e eu só tenho tempo de gritar uma última coisa
>"EU VIAJO NO TEMPO"
>dessa vez eu acordo num quarto de hospital
>mesmo a viagem já tendo acabado minha cabeça ainda latejava
>tento me levantar mas me sentia fraco
>uma enfermeira entra no quarto
>"bom dia senhor marcos como se sente hoje?"
>ela falava comigo como se eu fosse uma criança
>"onde estou?"
>"mais uma vez com as crises de memória senhor marcos? o senhor está no mesmo lugar onde esteve nos últimos 7 anos"
>"essa clínica psiquiátrica tem sido seu lar desde que você decidiu virar um viajante do tempo assassino"
>meu plano tinha dado certo
>"mas agora deixa de enrolação, está na hora do seu remédio"
>não me lembro de muita coisa depois disso
>fiquei sedado com o efeito do remédio
>volto à mim quando já era noite
>precisava saber o que tinha acontecido com os outros nessa linha do tempo
>mas eu mal conseguia andar por causa do remédio
>então eu percebi que conseguia andar de novo
>um sorriso que durou um segundo se formou na minha boca
>ainda tinha que arranjar um jeito de conseguir notícias dos outros
>saio do quarto
>"noite difícil? todas são"
>"parece que finalmente resolveu sair do seu quarto"
>olho pro lado e vejo uma sombra no meio do corredor escuro
>"desculpe se te assustei"
>"pra ter ficado isolado todos esses anos você deve ser um sujeito bem perturbado"
>"meu nome é lucas, a propósito"
>"sei que estou falando demais mas você tem permissão pra andar nos corredores a essa hora?"
>ele se aproxima da luz e vejo que era um cara de uns 30 anos aparentemente
>"eu preciso de um computador ou outra coisa onde possa acessar a internet"
>"você está com um problema então pois o único computador que tem acesso a internet aqui fica no escritório do diretor geral"
>"teria que ser louco pra entrar lá"
>"entendeu?"
>"louco"
>"estamos num sanatório"
>"eu te ajudo a entrar, precisava de um pouco de ação mesmo"
>"mas depois que você estiver lá vai estar por sua própria conta"
>ele me leva à sala do diretor geral
>estava trancada mas ele consegue abrir com um grampo
>não podia desperdiçar tempo
>ligo o computador e já começo a pesquisar pela naty, o eric e o connor
>encontro o eric primeiro
>ele não tinha conseguido passar na faculdade nessa nova linha do tempo
>trabalhava num posto de gasolina pra ajudar a mãe com as contas
>consigo encontrar a naty
>ela largou a escola e agora era garçonete
>seus novos futuros não me agradavam mas pelo menos eles estavam vivos
>mas para encontrar o connor eu tive que apelar pra minhas habilidades de hacker
>não conseguia encontrar perfis virtuais dele e isso me preocupava
>até que uma notícia me chama a atenção
>"estuprador em série é preso em flagrante"
>a mesma notícia que eu tinha visto na tv na linha do tempo original
>só que eu não tinha visto a matéria toda da última vez
>clico em "ver mais"
>"o misterioso estuprador que aterrorizava certos bairros nobres da cidade foi preso nesta terça-feira num flagrante armado pela polícia"
>"a identidade do estuprador era ninguém menos que o jovem paulo connor, um jovem britânico que morava na região com o pai"
>"foi-se feita uma pesquisa pelo histórico do rapaz de quando ele ainda morava na inglaterra e foi descoberta uma coisa sórdida"
>"aparentemente esse lado criminoso de paulo já existia em território internacional"
>o que eu li a seguir fez meu coração parar de bater por uns segundos
>"acusado de estuprar a própria irmã caçula, paulo teve que se refugiar no brasil, onde usou de sua dupla cidadania pra ficar longe da jurisdição britânica"
>automaticamente eu lembro daquela vez no parque no dia que conhecemos o connor
>ele não quis dizer o motivo para os pais terem se divorciado
>agora eu sabia de tudo
>lembro de tudo que passei até agora
>e pensar que eu me sentia em parte culpado pelo que ele tinha se tornado
>mas ele já tinha deixado de ser humano muito antes de nos conhecer
>sinto uma mão no meu ombro
>viro e era o segurança da clínica
>o lucas tinha sumido
>o segurança injeta alguma coisa em mim e eu apago
>acordo no meu quarto novamente
>mas isso não adiantava de nada
>logo eu não estaria mais ali
>saber o que o connor fez era o que eu precisava para voltar no tempo uma última vez
>estava decidido a consertar tudo desde o começo
>eu iria por um fim nisso de uma vez por todas
>faria o connor finalmente ter o castigo dele
>chega de me contentar com linhas do tempo meia-bocas
>iria criar a melhor de todas
>ou morreria tentando
>eu me concentro num ponto do passado
>passam-se alguns segundos e nada acontece
>tento novamente, mais focado
>e novamente nada
>eu não estava conseguindo viajar
>talvez fosse o sedativo
>não, o efeito já tinha passado
>um flashback passa pela minha mente
>"você sofreu uma estafa mental muito incomum"
>"seu cérebro trabalhou o equivalente à 3 anos em apenas um dia"
>meu cérebro estava cansado
>isso queria dizer que eu estava preso naquela realidade
>o esforço me faz ficar mais cansado ainda
>só me lembro de acordar no dia seguinte
>o lucas estava em pé no meu quarto me olhando
>"onde você foi parar ontem? porque me abandonou?" pergunto
>"eu falei que só ia te ajudar a entrar"
>"não quero me meter em encrenca sendo que eu só te conheci ontem"
>"se eles pegarem você invadindo de novo pode ficar proibido de sair do quarto"
>"se você tivesse passado pelo que eu passei não ia se importar de ficar preso num quarto" respondo
>"eu preciso que você me ajude a entrar no lugar onde eles guardam os remédios"
>"está tentando se matar?"
>"de um certo modo, sim"
>ele ri e diz que vai me ajudar, afinal eu estava dando a ele uma diversão que ele não tinha há anos
>tenho o resto do dia para planejar meu plano final
>eu iria apostar tudo naquela última viagem
>tudo teria que ser perfeito
>sem mais erros
>sem mais preços a pagar
>a noite chega e o lucas chega no meu quarto depois que todos foram dormir
>"está pronto?" ele pergunta
>"como nunca estive antes"
>"pois trate de saber que depois daquela sua invasãozinha eles botaram uns 4 seguranças a mais para rondar os corredores à noite
>"dessa vez entrar vai ser muito mais difícil"
>"se tiver que desistir a hora é agora"
>começo a sorrir
>"como se eu fosse desistir a essa altura do campeonato"
>começamos a andar em direção ao depósito de remédios
>ele não tinha mentido quanto à segurança
>tivemos que nos esconder várias vezes quando ouvíamos passos
>em 20 minutos quase não tinhamos saído do lugar
>o caminho parecia infinito
>mas como eu disse não iria desistir agora
>estávamos quase lá
>agora só precisava que o lucas destrancasse a porta
>quando escutamos vários passos vindo em nossa direção
>três seguranças nos cercam
>como eles nos acharam
>e no meio do escuro eu consigo ver uma luz vermelha piscando
>tinha uma câmera naquele corredor
>então era isso?
>tudo iria acabar aqui
>"no meu sinal você se tranca no depósito"
>"vou tentar ganhar algum tempo"
>"o que você está dizendo, lucas? você vai se encrencar por minha causa"
>"é, mas se você está arriscando tudo pra entrar aqui é porque é realmente importante pra você"
>"ou talvez você seja muito louco mesmo"
>"agora VAI"
>ele pula em cima dos seguranças e começa a socar um deles
>eu me tranco no depósito e começo a procurar o que estava querendo
>tinha que ter um pouco ali
>escuto sons de luta do lado de fora mas eu não podia ir ajudar ele
>eu não teria outra chance depois
>estava quase me dando por vencido até que eu encontro dentro de uma caixa
>adrenalina
>tinha uma injeção inteira ali
>eu não sabia se iria encontrar aquilo ali
>ou se daria certo
>pela primeira vez eu estava à mercê da sorte
>eu não escutava mais o lucas
>uma poça de sangue começa a escorrer por debaixo da porta
>"droga, acho que me exaltei. esse aí já era" escuto um segurança falar
>"tudo bem cara, qualquer coisa podemos alegar legítima defesa
>"estou cansado desses malucos. eles só dificultam meu trabalho"
>"vamos logo pegar o outro que está aí dentro"
>eu estava cansado
>cansado de ver as pessoas morrerem por minha causa
>aquela
>aquela iria ser a última vez
>eu juro
>injeto tudo de uma vez direto no meu coração
>e então tudo pareceu desacelerar
>pego uma bandeja de metal e vejo meu reflexo
>minhas pupilas dilataram completamente
>sentia meu coração bater duas vezes mais rápido
>me senti forte como nunca antes
>estava na hora
>ia escrever o capítulo final
>os seguranças arrombam a porta
>mas não havia nada que eles pudessem fazer agora
>antes deles me alcançarem eu já não estava mais lá
>dessa vez não senti a dor da viagem no tempo
>a adrenalina tinha neutralizado isso
>como eu disse, iria reescrever tudo desde o início
>minha primeira parada foi o dia onde tudo começou
>vou para o dia da minha prova final
>acordo com a cabeça em cima da minha carteira, como da última vez
>minha prova estava em branco
>olho pro meu professor e ele não estava sangrando pela barriga
>que bom
>deu certo
>mas eu não podia perder tempo ali
>não sabia quanto tempo a adrenalina duraria
>respondo a prova dessa vez
>por incrível que pareça eu ainda lembrava as respostas
>entrego a prova e quando saio da sala foco na minha próxima parada
>eu nunca tinha viajado mais de uma vez seguida
>não sabia o que iria acontecer
>mas agora não era hora para hesitar
>meu destino agora era a festa da escola onde nós conhecemos a naty
>acordo no banheiro da escola
>eric me esperava do lado de fora
>"tudo bem, cara? escutei você caindo lá dentro"
>"foi só uma tontura, eu to legal"
>vamos para o pátio da escola e lá estava ela
>tão linda como da primeira vez que eu vi ela
>eu não podia deixar o eric ver ela ou tudo aconteceria novamente
>peço pra ele ir pegar algo pra gente beber e vou falar com ela
>"oi, tudo bem?" ela diz quando vê eu me aproximando
>e então eu falei algo que faz eu sentir nojo de mim até hoje
>"cala essa boca, sua garotinha do interior idiota"
>"acha mesmo que alguém quer ser seu amigo aqui?"
>"volta para onde você veio"
>"você vai ser uma fracassada mesmo"
>"provavelmente vai terminar a vida como garçonete"
>ela fica irada e fala pra mim
>"moleque estúpido, eu nem queria estudar aqui mesmo"
>"você vai ver. eu vou vencer na vida"
>"todos vocês vão ver"
>ela se vira e vai embora chorando
>sussurro para mim mesmp
>"adeus"
>vejo o eric voltando com as bebidas mas eu já estava indo para minha próxima parada
>o dia em que conheci o connor
>eu pensei mil vezes antes de resolver fazer essa parte do plano
>e realmente aquela era a melhor opção
>eu sabia que se o connor não fizesse aquilo com a naty ele ia fazer com outra garota
>eu podia impedir isso
>pela irmã dele
>dessa vez a viagem no tempo doeu um pouco
>o efeito da adrenalina estava passando
>entro na sala de aula e o kevin vem me convidar para o racha, como da última vez
>digo que não poderia ir mas peço o notebook dele para pegar as informações
>como agradecimento ele só teria que me dar um pouco do dinheiro no dia seguinte
>o connor estava no fundo da sala sozinho
>vou falar com eric
>eu sabia que os traficantes que ele tinha se envolvido na primeira linha do tempo que eu criei eram os mesmos que ele conseguia um pouco de maconha de vez em quando
>peço o contato dos caras para ele
>ele me passa o número mas se assusta
>"você não vai fazer nenhuma besteira, né?"
>"não"
>eu já estava feito muito disso
>saio da sala e ligo pro cara
>faço uma encomenda para o dia seguinte
>também pergunto se ele não conhece alguém que possa fazer um serviço para mim
>depois que eu resolvo tudo eu avanço para o dia seguinte
>dessa vez doeu mais do que o normal
>mas eu teria que aguentar até terminar tudo
>não podia deixar falhas
>encontro com o traficante pouco antes da aula começar
>pego 2 pacotes de crack e pago com metade do dinheiro que o kevin tinha me dado
>e dou a outra metade para o serviço que ele tinha me arranjado
>agora eu só tinha que fazer mais uma coisa
>vou para a aula e espero dar a hora do intervalo
>espero todo mundo sair da sala e volto sem ninguém ver
>pego os pacotes de crack e ponho na mochila do connor
>escrevo uma denúncia anônima num papel e enfio por baixo da porta do inspetor
>quando o intervalo acaba o inspetor aparece na sala
>ele fala da denúncia e revista as mochilas de todo mundo
>a última era a do connor
>além dos pacotes de crack ele ainda encontrou uma glock que já estava lá antes de eu mexer
>o cara era psicopata em vários níveis
>o inspetor chama a polícia e em alguns minutos o connor foi levado dali
>foi acusado de tráfico internacional de drogas e porte ilegal de armas
>iria ficar preso durante o final de semana e depois seria deportado para a inglaterra para responder os crimes lá
>mas ele nem chegaria a sair do país
>caio no chão cospindo sangue, meus colegas me olhando assustados
>meu corpo estava começando a falhar
>avanço para o dia seguinte novamente
>dessa vez eu não iria fazer nada
>só confirmar se o cara que contratei tinha cumprido o acordo
>abro o whatsapp e lá estava uma foto do connor enforcado dentro da cela
>estava acabado
>não me orgulho do que fiz
>mas foi a última opção
>apago a foto, bloqueio o cara e o traficante e apago qualquer dado que pudesse ser usado pra me rastrear
>me sinto tonto
>sangue escorria do meu nariz
>acho que era o fim para mim
>não iria viver para ver o futuro que eu tinha criado
>mas eu tinha certeza que seria bom
>tudo fica escuro
>...
>coloque essa música: https://youtu.be/
>"cara"
>"cara, acorda"
>"você vai se atrasar pra faculdade"
>abro meus olhos
>era o eric de 19 anos
>"o quê?" respondo
>"a aula cara. você vai se atrasar"
>"cade a naty?" pergunto
>"quem é naty?" ele responde
>"ah, não... não é ninguém. acho que estou de ressaca"
>"de qualquer forma se arruma logo ou a gente perde o ônibus"
>ele sai do quarto e eu viro na cama
>um leve sorriso aparece no meu rosto
>eu estava enfim em paz
>...
>8 anos depois
>cá estava eu aos meus 27 anos
>terminei a faculdade e agora eu e o eric dividíamos um bom apartamento na capital
>trabalhava numa grande agência de advocacia
>ele tinha vários projetos com a prefeitura e estava noivo
>em breve iria se mudar
>estava na rua indo em direção a casa de um cliente
>era um dia bem movimentado
>várias pessoas na calçada
>falava no telefone enquanto andava
>e então no meio da multidão eu consigo reconhecer uma pessoa vindo na direção contrária a minha
>era a naty
>ela estava linda como nunca
>estava muito bem vestida
>carregava uma pasta transparente com um estetoscópio e um jaleco com "doutora natália" bordado
>ela tinha cumprido sua promessa
>conseguiu vencer na vida
>eu passo por ela e paro
>sinto que ela estava me olhando
>viro a cabeça e vejo que ela tinha parado também
>ela começa a andar e eu sinto vontade de ir atrás dela
>lembro de todas as linhas do tempo que eu tinha criado
>em nenhuma delas nós terminamos juntos
>e quando eu tentava fazer isso algo ruim acontecia
>se eu não tivesse aprendido essa lição eu iria ser o ser mais tolo que já existiu
>parece que eu teria que pagar um preço afinal
>e dessa vez o preço seria ela
>volto minha cabeça e começo a andar novamente
>enquanto nós dois nos misturávamos
>no meio da multidão
>fim